RESENHA: Paideia: a formação do homem grego de Werner Jaeger
Paideia é uma das heranças intemporais que nos
legou o mundo grego. O filólogo alemão Werner Jaeger busca através de uma de
suas mais importantes obras, transpor a formação do Homem grego no tocante aos
ideais helênicos. O autor retrata o tema com meticulosidade, condensando-o em
um único, porém extenso, volume.
A obra busca, em suas partes iniciais, elucidar
alguns conceitos considerados essenciais para compreender melhor, através da
ótica grega, os atributos da formação do homem helênico, tais como os de “Paideia”,
“Nobreza” e “Arete”. Através de estudos feitos sobre os ideais de educação da
Grécia Antiga, Jaeger analisou a interação entre o processo histórico de
formação do homem grego e o processo espiritual, pelo qual estes elaboraram seu
ideal de humanidade.
Paideia, tal como os gregos a concebem, é um
processo de educação em sua forma verdadeira e genuinamente humana, transmitida
entre gerações, o que lhe confere certa perenidade. É um ensinamento do corpo e
da mente, uma formação geral que se prolonga por toda a vida, cuja tarefa é constituir
o homem como “Homem”. É curioso observar que Jaeger faz o uso deliberado da
letra inicial maiúscula da palavra “homem” para designar o ideal de constituição
e educação da Hélade que, através de uma formação moral, física, poética e
teológica busca elevar o homem grego a um patamar sublime, não somente de cidadão,
mas de Homem em sua forma exemplar. Esta formação, denominada “humanismo”, é a
educação do Homem de acordo com a verdadeira forma humana, com o seu autêntico
ser e nela se inspiraram os educadores gregos, bem como os poetas, artistas e
filósofos.
A este respeito, o autor se atenta ao fato de
que seria insensato redimir toda uma cultura a um olhar minimamente
eurocêntrico, e é por isso que, ao introduzir o conceito explanado acima,
preocupa-se em esclarecer que, embora existam termos possivelmente análogos
como “civilização”, “literatura”, “educação” e “tradição”, é importante compreender
que Paideia engloba todos estes conceitos em um único, expressando estes
aspectos de maneira mais profunda em sua sociedade.
Esta sociedade, aliás, de acordo com a
elucidação de Jaeger, exerce um papel modelador, uma vez que a essência de
formação da educação helênica é a de conceber indivíduos aptos a exercer um
papel político-social na comunidade. Fica claro esta relação quando o autor
afirma que é inconcebível um espirito
alheio ao estado, assim como um estado alheio ao espirito. A educação,
portanto, não é uma propriedade individual, mas pertence por natureza à
comunidade.
É através desse ideal paidêutico, que os gregos
buscam atingir, em suas particularidades, a Arete, palavra que designa ao ato
de ser o melhor naquilo que se faz. Há aqui, novamente, a preocupação do autor
para com o vocábulo equivalente ao grego. Embora Arete possa ser traduzida
como “virtude”, esta não necessariamente está relacionada ao sentido moral da
palavra, mas sim ao de excelência, à de mais elevada perfeição, à harmonia do
ser. Tal primazia, entretanto, só pode ser atestada através da vivência e
reconhecimento perante membros da sociedade, uma vez que o arquétipo de nobreza
para o homem grego está marcadamente relacionado à política.
No que se diz a respeito de Arete, as obras de
Homero (Ilíada e Odisseia), além de terem sido a primeira forma de preparação
da mente de crianças e adultos, foram também, verdadeiras musas, uma vez que os
indivíduos buscavam em seus heróis, a inspiração necessária para alcançar tal
ideal, sendo este o que deu início, inclusive, à Paideia.
Jaeger
ressalta também que não se pode imaginar uma educação e formação consciente
fora de uma classe privilegiada e que este adestramento como formação da
personalidade humana mediante o conselho constante e a direção espiritual é uma
característica típica da nobreza de todos os tempos e povos. Só esta classe,
segundo o autor, pode aspirar à formação da personalidade humana na sua
totalidade, o que não se pode conseguir sem o cultivo consciente de
determinadas qualidades fundamentais, uma vez que a vida sedentária, a posse de
bens e a tradição possibilitam a transmissão das formas de vida de pais para
filhos.
Esta
obra é, portanto, bastante elucidativa e através da sua leitura é possível obter
uma perspectiva maior da realidade grega. A acadêmicos de Letras e Filosofia,
ou ainda qualquer pessoa a qual o assunto interesse, pode ser de tamanho
acréscimo, o que incutirá ao leitor a possibilidade de comparação entre o ideal
de formação da Grécia Antiga e o sistema educacional atualmente em voga no
ocidente e constatar que, embora haja alguns resquícios do ideal grego, a
concepção de educação no ocidente passou por drásticas mudanças desde a moral
heroica da era de Homero.
Brenda
Kalil Abraão é acadêmica do curso de Licenciatura em Letras do Instituto
Federal de São Paulo – Avaré
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JAEGER,
Werner. Introdução: O lugar dos Gregos na história da educação. In: JAEGER,
Werner. Paideia: a formação do
homem grego. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. cap. 1 , p. 3-20. v.
1.
JAEGER,
Werner. Introdução: Cultura e educação da nobreza homérica. In: JAEGER,
Werner. Paideia: a formação do
homem grego. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1994. cap. 3 , p. 37-60. v.
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