Educação ou Adequação?

A transferência de conhecimentos entre gerações e a vivência em comunidade estiveram sempre presentes e supriam as instâncias do indivíduo sem a necessidade de uma maior sistematização do conhecimento. Embora a filosofia grega já tenha, milênios antes, destituído do papel da alfabetização, o caráter divino, pode-se notar, ainda assim, na Idade Média que, como delimitação de poder, criaram-se escolas, nas quais somente os “mais aptos”, em sua totalidade, religiosos, tinham o “dom” da transmissão do saber. Este caráter elitista escolar está presente na realidade do século XXI e é uma herança demarcada fortemente pela classe dominante que busca, através de uma falsa democratização do ensino, estabelecer monopólios.
Essa escola igualitária, portanto, encontra-se idealmente situada em um território onde contextos históricos-sociais são irrelevantes, afinal todos que frequentam tal instituição tem acesso ao saber de forma padronizada. É através de discursos como este que mitos como o da meritocracia ganham força e apoio popular, atestando a grande maioria dos alunos, cujo acesso à educação superior é restringido por diversos fatores sociais, como incapazes de seguir a luz que emana a Gaia ciência.
Estes jovens frequentam um lugar onde professores são levados a acreditar que são detentores de todo o conhecimento, comparando-se a quase uns “oráculos de Delfos” e, por esta ilusão criada pela cultura acadêmica, sentem-se no direito de decidir o que é ou não é importante ser transmitido a seus discípulos, muitas vezes subestimando-os. No fim das contas, os conhecimentos não cobrados em provas e concursos são taxados como triviais.  Eis a máxima em questão: os índices de educação, aos quais nossos alunos são submetidos atualmente, medem os mais bem mecanizados pelo sistema ou os críticos e autônomos?
O discurso de que nas escolas brasileiras não se ensina pensar e sim a reproduzir padrões está cada vez mais presente nas manifestações de críticos da educação e, embora tenham razão em darem voz a tais afirmações, é preciso trazer a reflexão de que, antes mesmo de afirmarem-se problemas à educação, é preciso evidenciar que a realidade capitalista e elitista instaurada no sistema como um todo é a principal facínora quando se trata de construção de conhecimento crítico, uma vez que obriga jovens a digladiarem-se por uma vaga no patamar lustroso dos escolhidos pela mão invisível do neoliberalismo.
Numa sociedade na qual o acúmulo de capital é superestimado, torna-se comum que, certos assuntos sejam tratados com desdém pela grande parcela de seus conterrâneos, atribuindo aos cidadãos críticos, que buscam beber da fonte do conhecimento e promover reflexões, rótulos de caráter pessimista. Este tipo de pensamento que assola a mentalidade popular vem sido incutido desde a Revolução Industrial, a qual exigiu uma mão-de-obra qualificada e infundiu a ideia de que escola é local para produção de diplomas a fim de inserir seus educandos num mercado de trabalho que pouco valoriza o conhecimento.
Em uma realidade como essa, a educação que foge os métodos estruturais possui vários paradigmas a serem quebrados, inclusive, é necessário que, através da formação de professores críticos, haja uma desmistificação do papel da escola e a evidenciação do tipo de cidadão que se busca, através dela, formar. Quer-se compor indivíduos capazes de pensamento crítico ou mão-de-obra barata? Uma vez respondida a questão, teremos enfim definido o papel da escola, quer agrade os interesses econômicos/educacionais ou não.

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